segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Pinacoteca I

É importante falar q escrevo com medo, e nada mais sairá com fluidez, e nada mais sairá com inovações artísticas, e nada mais será adolescente e criativo como antes. Tudo será taurino, eneatipizado no 1, com seu devido rótulo de lugar fixo. Vi uma mulher chorar ao saber que devia resolver suas burocracias no RH, chorar por ouvir a frase: desça no RH. Vi uma mãe de 4 filhos não reclamar do que devia. Vi pais de família se calarem e obedecerem. Me vi como segurança sem atender, me vi parado botando medo nas pessoas com meu crachá de "não toque". Me vi paulistano, necessário em minha função sem reclamar do samsara. Me vi competente por agir só, me vi só por ser competente. Vi funcionários fofoqueiros e gente medrosa com razão, pais de família e donas de casa. Vi orgulho das filas grandes pelo lado controlador, e vi torcida por uma chuva pra acabarem com as filas da parte operária. Eu vi pessoas sorrirem por poderem sentar 5 minutos, e vi pessoas aceitando banco de horas pela efetivação. Eu me vi fora da pinacoteca na participação de lucros. Eu constatei que meus preconceitos estavam errados, gente rica é esnobe, e a arte é status pra essa gente. E gente pobre entra na pinacoteca querendo não ser percebida, querendo ser só mais um naquele lugar, sair sem ser notado. E obedecer como quem tem empatia com os avisos. Eu vi de perto a geração Y se esbarrarem para tirar selfies na natureza morta de run mueck, com franjas e sotaques afrescalhados. Eu vi paulistanos velhos olharem pelo interior da pinacoteca com fascínio pelo nao acabamento do prédio. Eu me vejo em pé na pinacoteca, protegendo nosso patrimônio estadual artístico. Me vejo elegante com meu brazer azul escuro, será? Mas seja lá como for, nunca me vejo lá. Eu não devia escrever isso, é só trabalho. Eu devo escrevo isso, é sobre arte. Eu não devia escrever isso, são pintores, e queriam sua eternidade nas telas, pois bem né. Artistas que querem o público, sofram com o populesco. Foi só trabalho.

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